sábado, fevereiro 26, 2005

Ainda sobre a investigação (e os exemplos da Física)

Uma das questões que tocámos foi ainda o estatuto que tem a investigação em educação nas comunidades científicas. E a este propósito veio a lume a questão do "rigor", do "distanciamento científico", do não envolvimento do investigador no objecto investigado. E as questões que se colocam continuam a ser: como é que o trabalho de Piaget adquiriu a credibilidade que tem (concorde-se ou não com as suas perspectivas teóricas)? como é que, por exemplo, posso conhecer profundamente e em pormenor os modos como a educação familiar sustenta o desenvolvimento da competência ética nos jovens se não participar nesse ambiente familiar (o próprio ambiente familiar do investigador)?
Os exemplos trazidos da Física são sempre interessantes pela tensão que sugerem entre as possibilidades oferecidas pela actual tecnologia de medida que permite controlar a instrumentação de forma muito eficaz e as limitações e constrangimentos do acesso ao conhecimento sobre o mundo social (onde enquadro a educação). Aplicar as metodologias aceites (e tradicionalmente seguidas) na Física às ciências humanas (ou pretender estender a estas os conceitos de rigor e distanciamento) sem levar em consideração que se está a lidar com fenómenos de natureza distinta, implica sempre alguma intencionalidade e por isso mesmo deve ser explicitado o conjunto de ideias que fundamenta a abordagem metodológica adoptada.
Ainda a este propósito citei na sessão o trabalho de investigação de Stephen Kline Out of the Garden (ver entrevista) sobre a enculturação (nos princípios do consumismo e da cultura americana mais reaccionária) das crianças através das séries de animação que a televisão lhes serve nas manhãs de Sábado e Domingo. Continuaremos.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Sobre a fraude em investigação

A discussão, numa das sessões desta semana, sobre a fraude na investigação permitiu clarificar diversos aspectos daquilo que conta como investigação (em educação). Tive em certos momentos a sensação de que estava a falar de algo quase tabú (olhares incrédulos?). Não há tabús nestas coisas da investigação. Assim como defendo que a investigação (nomeadamente a realizada em Portugal) deve ser muito mais analisada, criticada e discutida (sem com isso criticar as pessoas que a fazem) defendo também que os processos e as metodologias usadas na produção de investigação (e neste caso, em trabalhos académicos) deve ser interrogada, discutida e analisada. Isto é essencial para que se aprenda sobre "como orientar uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutoramento", que princípios adoptar na avaliação desse tipo de trabalhos académicos, como planear e conduzir as defesas públicas de dissertações e teses académicas, etc.
Especificamente sobre a questão da fraude na investigação deixo aqui a referência da notícia do Público sobre os problemas do Prof von Zieten da Universidade de Frankfurt que comentei esta semana e um exemplo de outro caso de fraude nessa área. Deixo ainda um link para um site que ilustra bem a facilidade e o à vontade com que actualmente se oferece serviço academicamente fraudulento no âmbito de trabalhos académicos (e que corrobora aquilo que eu disse esta semana). Exemplar.

Uma questão de perspectiva?

Naquela sala de festas em Janeiro as crianças corriam de um lado para o outro e só pararam quando o teatro começou.


jfm2004

Quando me sentei no chão e tive a perspectiva das crianças mais pequenas tive aquela sensação de quando se é pequeno e se tem só uma perspectiva das coisas, a nossa.
Como é que se lida com esta questão da perspectiva do investigador na investigação em relação com a noção de rigor e de distanciamento científico? (a propósito, o que é o distanciamento científico que se lê em alguns manuais de investigação?) Como é que posso conduzir uma análise de situações e práticas escolares usando um dado quadro teórico (e.g. inspirado na frame analysis de Erwin Goffman) sem assumir a minha perspectiva (eu+ Gofman+os meus dados+todo o resto do meu mundo social) sobre a situação em análise?