sábado, abril 09, 2005

Analisar e discutir a investigação?

Estive a participar no VIII Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação (SPCE) na ESE de Castelo Branco. Para discutir a investigação que se faz em Portugal. Com muitos colegas - é sempre bom rever aquelas pessoas que não se cruzam nos nosso caminhos durante anos...
A expectativa sobre a organização (depois do flop de Évora...) não era muita mas o arranque prometia.

jfm, 2005

Mas assim que entrei na primeira sala onde havia apresentação de comunicações das várias Secções a decepção começou. "Tem 10 minutos para falar, por favor não exceda o tempo". As pessoas tentavam esticar os 10 minutos (algumas esticaram obviamente para cima do tempo atribuído às comunicações seguintes), mas todos corriam desesperadamente para dizer o que tinham impreterivelmente que dizer e mostrar os N powerpoints que tinham preparado. A tentativa de fazer passar tão elevada quantidade de informação em tão pouco tempo colidia notavelmente com o meu interesse e expectativa de ouvir ideias e de as discutir. (Detesto ter que dar alguma razão ao Stagger no artigo que escreveu sobre a história dos powerpoints...)
jfm, 2005

Desesperante. Sem discussão. Sem análise. Sem expressão. Algumas comunicações interessantes e sobre as quais apetecia saber mais e discutir ideias, mas muitas comunicações sem alma, sem ideias, simples "revisões de literatura" demasiado escolares, ou mesmo aulas para nos ensinar, por exemplo, o que é a liderança, como se ensina as crianças a serem cidadãs, o que é a pós-modernidade, enfim, um massacre. Análise de discussão de ideias, quase zero. Valeu um Painel.

Foi bem o exemplo de como um espaço-tempo que devia ser organizado para proporcionar aos participantes a máxima interacção, análise, discussão, profundidade, aprendizagem, se tornou numa visita turística daquelas em que o guia vai a correr porque o museu está mesmo a fechar.
jfm, 2005

À saída da ESE havia no átrio um relógio que sugeria que é importante guardar o tempo, à chave, para que não nos roubem a possibilidade de aprendermos.


É assim que a investigação em educação em Portugal é analisada e discutida? Estão a dar razão total a todos aqueles que falam das ciências da educação (sem as conhecer de facto) como o pior dos vários dialectos do "eduquês" - e o que é curioso é que aquelas pessoas que assim falam nem sabem porque é que às vezes têm mesmo razão.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Concordo plenamente.
Considero que deveria haver uma maior selecção das comunicações e workshops que são apresentadas nos congressos portugueses. Deste modo, considero que a quantidade de apresentações seria menor, dando mais espaço à discussão, que é essencial. E para o próprio comunicador, na minha opinião e enquanto comunicadora em alguns congressos, é altamente frustante termos apenas os tais 10 minutos para apresentar o trabalho que desenvolvemos e ainda por cima, no final, a desejada discussão (já que é uma oportunidade de apronfundar aspectos que não podemos abordar nesses 10 minutos) acaba por não ocorrer, porque nem todos os comunicadores dessa sessão respeitaram o seu tempo. Enfim!
O mais grave ainda é ouvir respostas dos organizadores desses congressos do tipo: à partida todas as comunicações são aceites! Para que serve o grupo de investigadores que analisa os resumos enviados?

SF

5:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muitos dos cogressos que vemos anunciados parece serem mais formas de proporcionar alguns fundos às entidades que os promovem do que propriamente para discutir a investigação. E é muito difícil destrinçar as coisas. Não sei se é o caso desse congresso. Mas tenho experiência de outros em que parace que essa é a razão fundamental: tudo é aceite, inscrição cara (embora com apoios imensos do Estado), etc. Como modificar isso?

12:43 da tarde  

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