terça-feira, março 01, 2005

Estudos de caso: uma questão de rótulo?

É uma das questões mais intrigantes nalgumas instituições em que se faz investigação em educação no âmbito de programas de pós-graduação em Portugal. De repente, centenas de estudos de caso. Assim. No caso da Didáctica da Matemática a situação é paradigmática. E encontramos uma quantidade assinalável de "estudos de caso" sem caso ou em que o caso não é mais que um participante que o autor ou autora do trabalho analisou sob um determinado ponto de vista. Não mais que um trabalho de natureza interpretativa (ou qualitativa, se se quiser).
Porquê estudo de caso? O que se ganha em colocar uma etiqueta como essa no estudo?
Percebo a lógica inerente à necessidade de dar alguma caracterização ao estudo (sobretudo num trabalho académico). Mas isso deve ser feito com seriedade, e com reflexão, e sempre em relação à problemática escolhida, às questões de investigação formuladas e ao campo empírico em que a investigação decorre. A justificação mais que saturada de que "se trata de responder aos como e aos porquê" herdada de Bogdan e Biklen de há 20 anos (e repetida exaustivamente nas dissertações) não justifica nada, não fundamenta, é uma caixa negra, não diz nada de relevante que de facto fundamente.
Subscrevo cada vez mais com grande intensidade a posição de Brown e Dowling quando afirmam que não existe tal coisa chamada "estudo de caso" como metodologia de investigação. Trata-se isso sim de uma forma de organizar a investigação que pode dar jeito e pode não dar.
Mas continuaremos a referir-nos aos "estudos de caso" (sem no entanto os confundir com os case studies no sentido que os anglo-saxónicos os entendem - ver por exemplo Fun with Grapes: a case study) e a analisar sobretudo a sua qualidade como investigação. E a este propósito é importante notar como a qualidade dos estudos de caso entrou num preocupante plano inclinado (tantas vezes sem um quadro teórico, apresentando análises demasiado superficiais e guiadas exclusivamente pelo senso comum do autor ou autora, sugerindo resultados e conclusões que não têm evidência nos relatos apresentados) mas que são sucessiva e cegamente adoptados como modelos por quem vem atrás. Preocupante de facto.

Para além de um olhar sobre vários manuais de investigação em educação para perceber de que se fala quando se fala de Estudo de Caso (ou Case Study), vale a pena visitar a Wikipedia a este respeito. Voltaremos aqui.